segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A minha alma está parva!



O post que vos trago hoje é um pouco (vá muito) diferente do que normalmente estão habituadas/os. Hoje não vou falar de produtos de maquilhagem nem de cosmética em geral.

Hoje vou falar-vos, ou melhor escrever-vos, sobre o que tem sido a minha vida nestes últimos tempos, para que também tenham a oportunidade de saber um pouco mais sobre mim.

Licenciei-me em Antropologia, acabei o meu curso no inicio do ano de 2011, pensava eu, que assim que terminasse a licenciatura começava a trabalhar, não digo na minha área, mas pelo menos que estaria a trabalhar nem que fosse numa loja do virar da esquina. Que ia alugar um T1 na baixa lisboeta que amo de paixão. Mas não, em todos os aspectos!
Não comecei a trabalhar, até porque na altura dos exames finais, descobri que estava grávida da Leonor. Tive de largar a casa onde estava, e voltar à casa da mamã, para poupar todos os tostões que tinha junto dos trabalhos que arranjei nos tempos áureos da faculdade (sim eu na altura conseguia juntar dinheiro, hoje não, gasto tudo com a Leonor e em cosmética XD ).  Ser mãe solteira, sem apoio do pai da bebé, só podia contar com a minha mãe, fizeram-me crescer em vários níveis.

Assim que consegui arranjar uma creche para meter a Leonor, foi a busca por um trabalho, isto já em 2012. Corridas pelos centros comerciais, envio de currículos pela net, as semanas passaram a meses e quando dei por mim estava em 2013. 

Esse ano foi um ano complicado para a Leonor, estava sempre doente, mal curava uma gripe já estava com gastroenterite e assim sistematicamente. Havia alturas que ficava largos períodos em casa comigo e nem ia para a creche, mas mal punhas os pézinhos na creche, puff gastroenterite, constipação, otites e por aí fora.

É nesta altura que pensamos que afinal as coisas não estão fáceis, principalmente quando arranjo trabalho num stand num centro comercial e ao fim de uma semana sou dispensada (tinha pedido para me mudarem a folga de sábado e domingo para quinta e sexta, a Leonor estava com febre e não tinha ninguém que ficasse com ela). 

Muito bom, o país precisa de crianças! Certo, mas só se as mães forem ricas que não precisem de trabalhar ou então que possam contratar uma ama a tempo inteiro.

Entrei em depressão, se é que posso chamar-lhe assim. Cá em casa temos depressões sem as termos, se é que isso é medicamente possível.  Despachava a miúda de manhã para ir à creche, depois enfiava-me novamente na cama e basicamente só me levantava para a ir buscar. Ou então, ia para o café sentar-me na esplanada com um café na frente com um cigarro nas mãos. Cigarro esse que consumia avidamente e quando dava por mim num espaço de duas horas tinha fumado quase o equivalente ao que fumo hoje num dia inteiro, 12 cigarros.
Parece que é nos momentos que mais precisamos, que gastamos mais em coisas inúteis e que nos lixam a vida. Tinha batido mesmo no fundo, era apenas uma sombra daquilo que sou. Ao ponto do velhote daqui da rua, esperar por mim no café, pois sabia que eu ia aquela hora da manhã, tinha o café pago e um maço de cigarros à minha espera. Ele adora ouvir-me, ainda hoje o encontro num outro café aos sábados, mas agora sou eu que de vez em quando (quando ele deixa) pagar-lhe o café. Foi este velhote ex-tenente que me estendeu as mãos vezes sem conta, que me dava 40€ por duas horas de limpezas na casa dele.

Até Setembro de 2015, frequentei cursos do CECOA e depois do IEFP, não podia ficar com a mente estagnada, fiz um curso de processamento de vencimentos, outro de venda directa e de animadora-sociocultural.

Em conversa com um amigo, ele disse que estavam à procura de uma copeira na empresa que ele trabalha. Ordenado de 471.70€ das 8 da manhã às 17 da tarde, sem subsidio de alimentação (comem no local do trabalho) com folgas ao sabado e domingo. Vocês conseguem imaginar quem aceitou ir à entrevista, certo?
Euzinha!

Chorei baba e ranho todas as noites. Durante 2 meses andava com dores musculares de carregar com panelas e tachos maiores que a minha filha de 5 anos, dores nas costas de carregar caixas cheias de tomate. Braços e mãos queimadas com o ácido que uso para lavar covetes com comida queimada. De entrar ao serviço com a farda seca e limpa e entrar ao fim do dia de trabalho no balneário com a farda mais molhada  que um patinho dentro de água (muitas vezes de águas sujas).

Hoje ainda trabalho lá, já tentaram por duas vezes por alguém no meu lugar, para que eu fosse para o empratamento (sim porque eu de copeira, passei a preparadora alimentar e empratadora ocasional). Mas não conseguem fazer o que faço, dizem que é muito trabalho para uma pessoa, que não sabem como aguento e como consigo.

A essas pessoas só posso dizer: Experimenta quereres comprar um par de sapatos para a chuva à tua filha, ou simplesmente querer comprar-lhe um bolo e dizeres que não, porque não tens dinheiro para pagar. 

Mas continuo a enviar currículos, continuo a ver o que à nas ofertas de emprego. E era exactamente aqui que queria chegar.
Na falta de oportunidades que esta gente dá às pessoas. Querem licenciados, com mínimo de 5 anos de experiência na área com máximo de 35 anos de idade. Ora bem, para cargos de chefia até poderia concordar, mas para um lugar de administrativo? 3 anos de experiência em copa em hotel de luxo para quê? Para lavar pratos? Calma esqueci, são pratos de luxo e panelas com diamantes incrustados, não vá deixar cair e partir aquilo tudo, então sim só quando tiver mais ano e meio de copa é que posso tentar a minha sorte num hotel de luxo.
Por favor poupem-me! E vá lá, vá lá, não terem pedido pedido inglês como língua obrigatória e o francês e espanhol como mais valia para a selecção dos candidatos.

É ridículo ter engenheiros e advogados a trabalharem em caixas de supermercado. É ridículo as empresas só quererem quem estiver abrangido pelos estágios do IEFP.

Por isso a minha alma está parva, querem experts em tudo e mais alguma coisa. mas não querem pagar o preço que as capacidades das pessoas valem. é sempre bom crescermos à custa do esforço dos outros.

Mas um dia, um dia vou conseguir tudo o que planeei à 6 anos atrás. Vou comprar um T3 ou T4 (a família tem de crescer) e ter um cargo que ponha as minhas capacidades à prova e que me faça dizer que recebo ao fim do mês um ordenado e não o que recebo hoje (o que eu chamo de subsidio de sobrevivência).

Ahhh esta época está-me a cheirar que vai ser complicada, colega grávida que deve estar a uns dias de por baixa, e época de natal, vem os serviços extra. Portanto, deve haver uma redução de post.
Tinha programado escrever este fim de semana que passou 4 post, mas fui trabalhar no domingo das 7h às 18h. E no sábado não tive tempo nenhum, que andei a arranjar as fardas e outras coisas que tinha pendentes, acabei por não ter tempo para fotografar.
Mas assim que puder, vou postando.







5 comentários:

  1. Sei exactamente do que falas. Por isso, um grande beijinho de força e coragem!

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  2. Fico arrepiada ao ler-te e ver como o nosso país trata as pessoas. Eu sou doutra geração e tive mais sorte, acabei o curso e arranjei emprego na minha área. Mas estou solidária contigo e com todos os outros que se esforçam nesta vida e que não conseguem um ordenado digno de se ver.

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  3. Cada vez esta pior. Como te entendo, pois apesar de licenciada também aceitava qualquer trabalho que surgisse. Hoje estou desempregada mas de maternidade devido ao meu baby G.

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  4. A vida nem sempre é aquilo que sonhamos, e muitas vezes nem de perto daquilo que sonhamos está. Infelizmente, o trabalho/emprego está muito mau e as pessoas têm que se sujeitar a certos trabalhos. Enfim.. Força

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  5. Haja força! Tudo está difícil mas custa ver tanto empenho e trabalho desperdiçados e depois diz-se que não há mão de obra qualificada...

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